SITE DE POESIA E PROSA DA ESCRITORA
Digite aqui o assunto que deseja procurar dentro do Site e aperte a tecla "Enter" ou clique no botão "Pesquisar".
Escrevendo Belas Artes!
Conheçam a arte escrita de Julia Lopez, membro da Academia de Letras do Brasil - ALB.
Textos

FADO


I - O Náufrago
 
Mergulhado em meu fado
Como um náufrago no mar da vida,
Sinto o gosto da salobra água
A irritar a garganta e as feridas
Ainda abertas – em abundância
Ou no ponto inadequado,
O sal da vida a torna insuportável!
 
Há momentos em que tamanha é a dor
Que na água sinto um gosto diferente:
O gosto da ferrugem escarlate do esquecimento;
E quando o sinto mesclado ao amargor,
Percebo que o fel vem das entranhas
Da vida marinha que eviscerei,
Espalhando a morte com a minha dor
– da vida sempre evitamos o fel e seus venenos,
mas pequenas doses de amargura,
de remédio podem se tratar
para uma vida monótona e insulsa!
 
E perdido nesse mar confuso
De sentimentos conflitantes,
Deixo-me levar pelas ondas
Sonoras do Fado e sou arrastado
Pela melodiosa voz para algum ponto
Remoto e desconhecido
– talvez de minha mente,
de meu coração ou de minha alma –
Como um mantra que ao chela
Transporta a uma outra dimensão
Ou a um outro estado de consciência,
Por vezes o diluindo
No oceano universal da vida
Em profunda meditação transcendente!
 
 
II - O Fausto
 
A dor factual do meu triste fado
Cantada em Fado me faz refletir
Sobre os recentes fatos
Em minha vida que destroçaram
Meus fátuos pensamentos e sentimentos
De um fausto relacionamento amoroso,
Revelando que este – de fato –
Não passava de fogo-fátuo!
 
Por fugazes instantes
Quis ter a coragem de Fausto
Para selar um diabólico pacto,
Que ainda que de sangue fosse,
Outras intenções certamente teria;
Pediria amor, sinceridade,
Gratidão, honestidade,
Dedicação, reconhecimento,
Apoio e tantas outras coisas
Que não recebi, mas considerando
O fim fatídico do lendário doutor,
Prefiro continuar acovardado
E recolhido em solitária dor!
 
 
III - O Fado
 
Do transe amargurado
Lentamente sou despertado
Quando percebo uma segunda voz
Em uma música de uma só voz,
E vejo que a voz terna de albor
É o canto de um pequeno
E célico habitante
– centelha do amor e fragmento
de minha alma agonizante! 
 
Minha pequenina centelha
Deixa suas fantasias
E sonhos animados
De luminosas e vibrantes
Cores vindas do espaço,
E estende os pequenos braços
Ao pedir para ouvir
Meu triste Fado junto a mim
– do meu triste fado nada conhece,
apenas o vivencia inconsciente
e com sua adorável inocência!
 
Sentado em meu colo,
Começa a ficar reflexivo,
Como se compartilhasse
De meus pensamentos e sentimentos,
E compartilhando o mesmo FADO
Ficamos os dois ali,
Em cúmplice silêncio!
 
 
IV - A Fada Sereia
 
Com a fada fadista
Cantando o fado
Cruelmente insensível
Qual fatídica canção de ninar,
Começo a embalar seu corpinho
Apertado contra o meu,
Com muito amor e carinho.
 
Sem poder com as mãos acariciar,
Esfrego a barba por fazer
Em seus castanhos cachos,
E nesse afago volto a navegar
Pelos versos da fadista,
Com sua voz hipnótica
De lusitana sereia a atrair-me.
 
No embalo da balada
Fatal das terríveis Parcas,
Distantes nos perdemos
No badalar das horas,
Enredados na trama
Da similar e cantada história!
 
 
V - O Infante
 
Uma passagem mais tocante
Toca as profundezas da alma
E as emoções marinhas enchem
Meus olhos qual maré,
Molhando os caracóis em ondas
De desespero que contenho
No quebra-mar do silêncio
Para poupar seu coração de menino,
Mas então percebo que adormecido
Já estava pelo canto mágico da fadista,
E nem percebeu que o coroei
Com meu molhado diadema
De reluzentes águas-marinhas!
 
Levo-o para o seu leito
E ao unir nossas frontes
Para um terno beijo
(um ”beijinho de esquimó”),
Uma gota de lágrima une
As pontas dos narizes.
 
E tomando entre as mãos
As maçãs do seu rosto,
Com sua doçura a contrastar
Com o meu em salmoura,
Digo sem pensar, emocionado:
– Você foi o melhor verso do meu FADO!!!

 

Julia Lopez

24/01/2013
 
 

Montagem: pintura de Georgy Dmitriev (1952) e foto do meu filho Dimitri.


Obs.: Poema sobre meu filho, que já não vive mais comigo (toda a dor advém disso) em decorrência da separação conjugal. O episódio realmente ocorreu no dia 1º de dezembro de 2012.



Visitem meu Site do Escritor: http://www.escrevendobelasartes.com/
Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 18/03/2013
Alterado em 11/01/2024
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários

 OBRA 

 BLOG 

 

Voltar ao início

 

MURAL DE AVISOS:
 

- Para lerem meus NOVOS POEMAS PUBLICADOS, basta clicarem no título: OrbitalLaços da EternidadeInquietudeMeu MundoFim de NoiteSinto Partir...O Homem IdealPorto de ErinaTríbadesA MelissaA HebeHelena de MitileneManhãs PantaneirasGárgula Pantaneira e Valores da Terra

- Acessem meu Blog e saibam mais sobre minha posse como Imortal da Academia de Letras do Brasil - ALB.

 


 

FERRAMENTAS DE PESQUISA:

Abaixo disponibilizo caixas de pesquisa que podem ser úteis. Não se preocupem com qualquer mensagem de "formulário não seguro" ou "conexão não segura" que surgir, pois nessas caixas não serão inseridos dados importantes, nem dados pessoais ou sigilosos.

 

Dicionário online:


Para pesquisar sobre assuntos gerais e mitológicos:


teste


Para pesquisar sobre mitologia:

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
Digite aqui o assunto que deseja procurar dentro do Site e aperte a tecla "Enter" ou clique no botão "Pesquisar": Copyright © 2013. Todos os direitos reservados sobre todo o conteúdo do site. É proibida a cópia, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas e uso comercial sem a minha prévia permissão.
 OBRA         BLOG