SITE DE POESIA E PROSA DA ESCRITORA
Digite aqui o assunto que deseja procurar dentro do Site e aperte a tecla "Enter" ou clique no botão "Pesquisar".
Escrevendo Belas Artes!
Conheçam a arte escrita de Julia Lopez, membro da Academia de Letras do Brasil - ALB.
Textos

A ESMERALDA FADA DE LÁBIOS AMARGOS

Libo o sabor da tristeza, com suas notas marinhas.
Libo o sabor do meu humor, com suas notas cítricas.
Libo o sabor da solidão, com suas notas de absinto
– tudo que me restou foram doses de absinto!
 
Destilaste apenas o fel da artemísia planta,
E da deusa não foste capaz de destilar a pureza!
Com a lunar deusa não aprendeste
Esta maravilhosa magia da natureza!
 
E não aprendeste a refletir o Sol
– como a casta deusa ao seu irmão –
No arcano da noite, guiando e iluminando
Os misteriosos caminhos do coração!
 
Não aprendeste
A encantar como a luz do luar
– nem mesmo a inspirar o canto!
Não aprendeste a seduzir
Com as prateadas joias
Das noites luminárias,
E do glitter das estrelas
Dependes para maquiar
Uma sombra de sedução,
Maquiando a falsidade
– exagerando, borrando-se –
Para conquistar o coração,
Que fatalmente mergulhaste
Na noite mais escura, em doce ilusão!
 
Apenas usas as estrelas,
Mas delas nada sabes!
Desconheces a trama
Em que Órion se põe
E em perseguição eterna
Escorpião nasce;
E desse famoso drama
Dos deuses e das constelações,
Tu – certamente – nada sabes!
 
Nada aprendeste
Com a irmã gêmea do Sol,
A deusa da lira de prata!
Desviaste-te e às infames artes
Da poderosa Circe te entregaste!
 
Como dedicada aprendiz,
Com feitiçarias mantiveste
Cativo meu coração,
E agora me ofereces a losna
De teu desprezo e ingratidão,
Para ao aborto criminosamente
Induzir meu coração?
Por que mereço
Tão cruel e vil poção?
 
Não satisfeita,
Destilaste a poção
Para melhor apresentação,
Para me lograr e me amargar
– para tua egocêntrica diversão!
 
E em companhia de Circe
Sob a luz da plena Lua,
Mandrágora acrescentaste
À mágica poção
Com tanta perícia,
Facilidade e propriedade,
Que o odor fétido não se percebia,
E da antropomórfica raiz
Mortais gritos não se ouvia!
 
Com teus sortilégios,
Para a Fada Verde invocar,
Deste início ao belo Ritual do Fogo,
A fim de me enfeitiçar, envolver e fascinar!
 
Vi-te gotejando como láudano,
Lenta e sadicamente sobre meus sonhos
Cristalizados como açúcar,
Dissolvendo-os gota após gota
Com teu letífico veneno!
 
Vi-te inflamando com furor
O doce e alvo torrão
Para meus sonhos evaporar,
Porém de forma inesperada
E bela os vi desmoronar!
 
Com teu veneno, vi meus sonhos
Em alucinação convertidos,
E alucinado, assisti maravilhado
Aos meus sonhos dissolvidos
Se precipitarem qual granizo
Na amarga e esmeralda bebida!
 
Vi-te a tombar meus sonhos
Dissolvidos em cristal cascata,
Como grãos de areia dançando
Em redemoinhos de absinto;
E tudo ficou turvo,
Transbordado, incandescente...
 
Ainda alucinado,
Os belos fogos vi,
E como um imprudente infante,
O enorme perigo não percebi!
 
Enlouquecido,
Bebi meus sonhos envenenados,
Agora amargados e queimados,
Tendo como companheira
A sedutora e verde fada!
 
Por seu perfume: inebriado!
Pelas luxuriantes curvas
De sua nudez: seduzido!
Pela suavidade de sua voz: levado;
E com ela viajei por reinos encantados
E idílicos paraísos perdidos!
 
Senti-me feliz outra vez;
Senti-me triunfante;
Senti-me vitorioso
Pela reconquista do amor,
Mas como os antigos romanos,
O gosto absinto me lembrou
Do lado amargo e divino de Victoria;
E pensando nisso,
Recordei-me do fel da solidão:
Do transe psicodélico
Inevitavelmente despertei!
 
Tenho a Fada Verde à minha frente,
Com olhos de esmeralda reluzente,
Frenética no bater de asas arco-íris,
Como um livro aberto de feitiços
– um Livro das Sombras!
 
E como um dragão de mil olhos,
Sai planando e rodeando,
Posando sobre meu ombro
Como exótica libélula
Em lago puro e cristalino,
Então me dou conta
Que tudo não passava
De ilusão da verde fada!
 
Talvez de inspiração
Poética me servisse,
Como aos grandes artistas
Da Belle Époque,
Mas a muitos deles
A fada roubou a alma,
E temo que me dilua em seu beijo
Entorpecente e amargo;
Temo perder-me na embriaguez
De seu fascinante delírio
Como a Verlaine e Van Gogh,
Enlouquecendo em horrendo vício!
 
Não devo me viciar
No absinto da tristeza;
Não devo me enamorar
Da perigosa Fada Verde!
 
Devo me livrar
Do meu vício em láudano;
Devo me livrar
Desse amargo veneno!
 
Tu, ao ver-me
Violenta e ruidosamente
Partir a Fada Verde
Como esmeralda em mil pedaços,
Tingindo com seu sangue
O mármore de translúcido verde;
Em Beladona te convertes,
Em um último feitiço
Para com a minha razão
Sadicamente divertir-se!
 
A pupila enigmática
E romanticamente dilatada
Para com o olhar encantar!
 
Os lábios entreabertos
E a ponta da língua a percorrer
Os pontiagudos caninos!
 
Sinuosa à luz de velas
– bruxuleante e bela –
Se aproxima perigosamente,
Sussurrando encantos em meus ouvidos,
Queimando com o hálito quente,
Entorpecendo-me os sentidos
Para minha alma voltar a sugar
À guisa de terrível Vrykolaka!
 
Em um átimo me desvencilho
Com o peito compungido!
Com o ânimo recobrando,
As maçãs corando,
Resoluto, firme e decidido,
Liberto-me de todo o mal,
Liberto-me desse vício:
Vício de sofrer, vício de amar,
Vício de sonhar em meio a beijos
E com um gosto amargo no final, acordar!
 
Não mais me ludibrias,
Não mais me confundes,
Não mais confundirei
A Beladona com a Amarílis
– é comum que se confunda!
 
A Beladona pode
Desabrochar em bela mulher,
E pode ser a bela dona
Do coração que lhe aprouver,
Mas é entorpecente e viciosa,
E só à ruína o levaria
– uma fêmea bela e ardilosa,
mas o incauto não o saberia!
 
A Amarílis é verdadeira
E pura amabilidade!
Também pode desabrochar
Em bela mulher
E ser a bela dona
Do coração que lhe aprouver,
Mas o purificando e perfumando
Com o doce aroma da sinceridade!
Ditoso do varão que pode desfrutar
De suas virtudes e de sua bondade!
 
Afasta-te Beladona!
Em busca da Amarílis devo rumar,
A verdadeira bela mulher
– quiçá minha verdadeira bela dona –
A quem devo amar!
 
Ela cresce nas montanhas
Da América do Sul
E lá é a Imperatriz das flores
– não se trata da espécie
que brota no Peru!
 
Mas seria em vão tal jornada
Se no solo vasto e fértil
Do coração de minha alvorada
Não tivesse sido cultivada!
 
Por muito tempo a vi ali,
Plantada, sem vida,
E como morta a senti.
Porém, apenas adormecida
Em realidade se encontrava,
E novamente passou a florescer,
– faz parte de sua natureza –
Trazendo vida novamente
A um peito cansado de sofrer!
 
Talvez decore
Com flores de Amarílis
O funeral da Beladona
– ao sepultá-la em meu coração,
com objetos apotropaicos
adornarei a eterna sepultura,
para que jamais tente
dos mortos regressar
como tétrica figura,
e à minha vida retornar!
 
Suas poções mantiveram-me
Enfeitiçado e envenenado,
Cativo e escravizado
Em tormentoso vício!
Libertar-me-ei de tudo isso
– em reabilitação encontro-me!
 
Do amargor nada mais quero:
Nem entorpecentes, nem veneno
– afasta-te Beladona
com a afluência atropina de teus lábios!
 
Busco apenas a doçura
Da ternura e do amor,
Da paz e da cordura,
Do mais singelo pudor!
 
Em meio ao meu apocalipse particular,
Onde toda a farsa de amor
Passa a se revelar,
Rumo em direção oposta,
Onde tudo é velado!
 
Chegando à ilha de Ogígia,
À Calipso confio,
Na gruta mais profunda,
Os arcanos do meu coração,
Ocultando o segredo
Do nome da bela dona
De alva e sedosa cútis,
Reluzente, ataviada
Com gemas magníficas
E adornos de ouro e prata!
 
Sua relva, seus cabelos
E seus olhos são tão negros
Como a noite mais profunda
– noite de mistérios, encanto e magia!
 
Como devota da casta Ártemis
– quiçá uma de suas ninfas –
Irradia esplendores lunares
Que ofuscam para a caça flechar,
Que com o coração atravessado
Pela luzidia prata lunar,
Cativo se deleita e encanta
Com o doce e belo canto,
E com a lira de prata a dedilhar!
 
Essa bela dona de rara pureza,
Essa bela flor de rara beleza,
Ao porvir talvez pertença,
E agora apenas me atrevo
A chamá-la por Amarílis,
A Flor da Imperatriz das alturas
Que todo o amor inspira!
Floris regina amabilis!

 
Julia Lopez

21/11/2012


Nota sobre a foto: "Natureza Morta com Absinto”, de Vincent Van Gogh (1887).



Visitem meu Site do Escritor: http://www.escrevendobelasartes.com/

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 14/03/2013
Alterado em 11/01/2024
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários

 OBRA 

 BLOG 

 

Voltar ao início

 

MURAL DE AVISOS:
 

- Para lerem meus NOVOS POEMAS PUBLICADOS, basta clicarem no título: OrbitalLaços da EternidadeInquietudeMeu MundoFim de NoiteSinto Partir...O Homem IdealPorto de ErinaTríbadesA MelissaA HebeHelena de MitileneManhãs PantaneirasGárgula Pantaneira e Valores da Terra

- Acessem meu Blog e saibam mais sobre minha posse como Imortal da Academia de Letras do Brasil - ALB.

 


 

FERRAMENTAS DE PESQUISA:

Abaixo disponibilizo caixas de pesquisa que podem ser úteis. Não se preocupem com qualquer mensagem de "formulário não seguro" ou "conexão não segura" que surgir, pois nessas caixas não serão inseridos dados importantes, nem dados pessoais ou sigilosos.

 

Dicionário online:


Para pesquisar sobre assuntos gerais e mitológicos:


teste


Para pesquisar sobre mitologia:

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
Digite aqui o assunto que deseja procurar dentro do Site e aperte a tecla "Enter" ou clique no botão "Pesquisar": Copyright © 2013. Todos os direitos reservados sobre todo o conteúdo do site. É proibida a cópia, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas e uso comercial sem a minha prévia permissão.
 OBRA         BLOG